Responsável pelo conteúdo do site: João Pernão
NOTA DE ABERTURA
O ano de 2014 marca o início de um novo ciclo de vida do Mestrado Integrado em Arquitectura com especialização em Arquitectura de Interiores: a avaliação externa da agência de acreditação do ensino superior reconheceu uma vertente importante do currículo desta especialização – a Reabilitação do Edificado - propondo a alteração da denominação do curso. A partir do ano lectivo de 2014/15 os alunos que finalizem os seus Trabalhos Finais de Mestrado serão Mestres em Arquitectura na especialização de Arquitectura de Interiores e Reabilitação do Edificado (Master in Architecture, specialisation in Interior Architecture and Building Rehabilitation).
O Mestrado Integrado em Arquitectura com Especialização em Arquitectura de Interiores é um curso completo de Arquitetura, reconhecido pela Ordem dos Arquitectos e pela Directiva Europeia 2005/36/CE, com o mesmo reconhecimento académico e profissional do tronco principal do Mestrado Integrado em Arquitectura, adicionando valências específicas no âmbito da qualificação e detalhe dos espaços construídos e da reabilitação do edificado, que poderão ser determinantes no sucesso futuro de integração no mercado de trabalho.
POR UMA ESPECIFICIDADE DE ABORDAGEM
Arquitectura de Interiores
Há factores de diversidade na Arquitectura: objectivos, diferenças de escala a que esta opera, natureza das transformações com que lida, e tempo de duração das transformações que realiza no ambiente natural e construído.
Só por aqui poderíamos classificar qualquer intervenção arquitectónica. Mas em rigor não há uma arquitectura “de interiores” e outra “de exteriores” pois não existe oposição entre elas. O que está dentro ou fora é sempre determinado por um ponto de vista. Isto significa que não há distinção nas competências dos que operam arquitetonicamente no exterior ou no interior de qualquer espaço. Mas existe um sentido nessa intervenção. É esse sentido que, quanto a nós, justifica a designação de “Arquitectura de Interiores”.
Porque é que poderemos considerar que existe uma intervenção claramente conceptualizável no âmbito de uma “Arquitectura de Interiores”? Esclareçamos previamente: nem todos os arranjos espaciais que servem de suporte à habitação humana, como diria Khan, estão ligados ao mesmo tipo de “instituição”. Há instituições humanas que necessitam de um cenário permanente e outras que necessitam de cenários efémeros que enquadram“rituais” específicos. São estas últimas que, atuando num tempo limitado, se constituem como produtos de uma “Arquitectura de Interiores”. Porquê “Interiores”? É que esses “cenários” destinam-se a favorecer a emergência de um tempo que ocorre dentro do tempo quotidiano e que funciona como uma espécie de parêntesis na vivência deste como espaços de representação.
Neste Mestrado, são tratados os valores da luz, das texturas, das materialidades, das cores e do detalhe, a partir da dimensão cénica, ambiental e da efemeridade.
Programas como POP-UPs, serviços, mas também museus, restaurantes, espaços de espectáculo, exposições e os chamados eventos estão neste caso.
A Arquitectura de Interiores co-existe e opera com o Design, a Cenografia, o efémero e as Artes Plásticas, podendo envolver no seu âmbito ambientes virtuais e digitais a par da realidade “real”.
A Arquitectura de Interiores não exclui o que surge exteriormente à “caixa” habitada. Porém, nos dias de hoje, os Interiores tratam do re-uso dos espaços, lidando com as fronteiras entre espaços, com as margens, com o “entre” e os espaços inesperados.
Os conteúdos ministrados nas unidades curriculares de Projeto IV e V, bem como a Teoria do Lugar e a História dos Interiores Domésticos incorporam e complementam o sentido do que entendemos por “Interiores”. Por essa razão e por uma questão de continuidade, identidade e reconhecimento do trabalho desenvolvido desde a criação desta especialização, que provou ter mercado em Portugal e noestrangeiro, defendemos que faz sentido a designação de “Arquitectura de Interiores”.
Reabilitação do Edificado
Esta especialização impõe-se como um domínio específico que privilegia, redefine e qualifica novos territórios relacionados com a definição e requalificação de espaços pré-existentes, quer arquitectónicos quer urbanos, metamorfoseando-os e transfigurando-os através de novos entendimentos numa visão abrangente e múltipla de diversas áreas disciplinares.
As unidades curriculares de Laboratório de Projecto desta especialização, com o mesmo número de horas e créditos do tronco principal do Mestrado Integrado em Arquitectura, estipulam sempre simulações de projecto em que existe a presença de pré-existências construídas, com a sua decorrente análise e validação, e a necessidade da contextualização e diálogo entre o novo e o que existe. Os docentes desta unidade curricular possuem um currículo profissional significativo de projecto, transmitindo aos discentes um conhecimento apoiado na experiência.
Sendo este um Mestrado Integrado em Arquitectura, na formação que oferece é considerada também a dimensão urbana, mas aqui encarada sobretudo como “contexto” para a intervenção arquitectónica.
Texto de Maria Dulce Loução, Professora Doutorada em Arquitectura, Coordenadora do MIARQ INT&REAB